O Reflorescimento do Pastel

Por Diane Précourt

Ele tem a história à flor da pele, o ouro azul do Midi-Pyrénées. Quantas reviravoltas já viveu o pastel, planta mítica dessa região do sudoeste da França, hoje reabilitada depois de ter vegetado nos meandros do esquecimento durante mais de 400 anos – logo ele, que havia semeado riqueza e tradição no seu solo

Essa planta de floração amarela fornece uma pigmentação de um azul suave, capaz de ruborizar de admiração os maiores pintores. Cultivada desde o século 15 nos arredores de Toulouse, no Midi, ela logo passou a ser apreciada pelas virtudes para coloração de suas folhas verdes, embora suas propriedades medicinais e cicatrizantes já fossem conhecidas havia muito tempo.

Mas o lado romântico deste lindo vegetal da família das crucíferas contrasta alegremente com o comércio florescente que ela conseguiu despertar, tornando-se de repente a coqueluche do “triângulo de ouro do pastel” formado pelas cidades de Toulouse, Albi e Carcassonne.

Um processo extraordinário, originário da preciosa pasta produzida a partir da planta, deu origem a pequenas fortunas para ospastelliers, cujos negócios prontamente se espalharam por toda a Europa. Fala-se em 30 a 40 mil toneladas de exportação de pastel, então no ápice de sua produção. A prosperidade desses comerciantes abastados os estimulou a construir verdadeiros palácios, competindo em prestígio e estética entre si, e desenvolvendo assim um patrimônio arquitetônico inestimável na região conhecida como Pays de Cocagne.

Mas as guerras religiosas e, acima de tudo, a concorrência impiedosa do índigo americano no século 17 fizeram com que a fina flor dessa economia acabasse por murchar, para em seguida desaparecer, exceto durante um curtíssimo período em que Napoleão a fez germinar novamente... para tingir de azul os uniformes dos seus soldados.

Seria preciso esperar até o inicio da década de 1990 para que o pastel tornasse a desabrochar no espírito de alguns apaixonados, os quais contribuíram para o seu novo florescimento. Tanto é assim que em 2004 foi recriada a Academia de Artes e Ciências do Pastel, para torná-lo mais conhecido e garantir a sua retomada sob todos os aspectos.

Pesquisas foram então realizadas com o objetivo de desenvolver um novo método de extração do pigmento da folha, sem passar pelas trabalhosas etapas tradicionais da putrefação, da fabricação da bola de pasta chamada cocagne, da secagem e da trituração, estabelecendo um ciclo de produção mais rápido do que aquele utilizado durante o Renascimento.

Hoje, a planta está no centro de um turbilhão de novos campos de interesse, empurrada na direção a um florescimento que jamais pareceu ter perdido o viço. Dessa tintura vegetal, 100% natural, derivam diversos produtos têxteis, artísticos, decorativos, de higiene ou mesmo cosméticos... e até produtos para massagens, criados recentemente a partir da semente. Afinal, não havíamos descoberto desde a Idade Média seus benefícios dermatológicos?

Existem diversas nuances de pastel, do “azul nascente”, um branco azulado, ao “azul inferno”, o mais escuro. A própria palavra se impôs na linguagem cotidiana através dos séculos, indicando agora bem mais do que apenas uma tintura dentro da paleta de cores.

Se certas partes da Isatis tinctoria, como a planta é chamada cientificamente, precisam ser esmagadas para que se extraia o material para a sua transformação, o fato é que o astuto pastel, pelo visto, não iria ficar se remoendo, nem se deixará pulverizar pela história.

Midi-Pyrénées