Impressões Normandas

Por Anita Draycott

Existe algo na luminosidade peculiar da Normandia que desafia inúmeros artistas, servindo de inspiração para que as paisagens da região sejam transportadas para as telas de pintura. Além desse fenômeno, a proximidade com o Canal da Mancha fez com que essa região se beneficiasse de um microclima ameno, o que a torna um pequeno paraíso para os horticultores.

Recentemente, visitei os locais de trabalho de dois jardineiros engajados. James Priest, chefe-jardineiro em Giverny, cuida do parque da casa do pintor impressionista Claude Monet. Menos conhecidos, mas não menos espetaculares, os jardins do Château de Brécy, situados perto de Bayeux, do departamento de Calvados (noroeste da França), valem a visita pela dedicação como são cuidados por Didier Wirth, um jardineiro fora do comum.

Ode de James Priest à Claude Monet

Quando adentramos pelo portão do jardim e, em seguida, passamos sobre a ponte japonesa, situada sobre a lendária lagoa de plantas aquáticas de Giverny, temos a sensação de que o passeio ocorre dentro de um dos quadros de Monet. Com seus ramos graciosos, salgueiros-chorões chegam a tocar a água de cor esmeralda.

‘‘Monet era fascinado pela intensidade da luz que se infiltra na bruma, entre o rio Sena e as colinas’’, comenta o chefe de jardinagem James Priest.

Na casa e no jardim de Giverny, Monet viveu e pintou de 1883 até sua morte, em 1926. Com o tempo, a propriedade perdeu seu encanto. Porém, graças ao árduo trabalho de James Priest e sua equipe, o jardim resplandece novamente.

Durante minha visita, no último mês de junho, as cravinas, as papoulas, as campânulas, as rosas e muitas outras flores pareciam querer disputar a atenção sobre os canteiros do jardim florido da casa rosa decorada com persianas “verde Monet”.

“Ainda que se trate de um jardim histórico, ele não pode se repetir com exatidão todos os anos”, explica James Priest. “Ele precisa evoluir, fazer várias combinações de cores e uma série de associações entre as plantas, tudo como Monet concebeu – desde que nos limites e no espírito que ele mesmo havia estabelecido.”

Em 2012, James Priest começou a pintar na companhia de outros artistas em Giverny. “Essa experiência de utilização das cores à maneira dos impressionistas é fascinante”, afirma, admitindo que essa experiência o levou a experimentar novas paletas de cores.

Essa pesquisa o ajuda a mostrar como Monet trabalhava suas obras. Em uma época onde a maioria dos artistas adotava um estilo de vida boêmio, Monet pintava do nascer do sol até o anoitecer, mal parando para almoçar. Aos 70 anos, o grande impressionista começou a sofrer de catarata e entrou em depressão. Foi então que seu velho amigo, o ex-presidente Georges Clemenceau, o pressionou para realizar a famosa série dos nenúfares (Les nymphéas), sendo que oito telas estão expostas no Museu de l'Orangerie, em Paris.

‘‘Se você não quer fazê-las por mim, faça ao menos por seu país’’, pediu Clemenceau. Felizmente, Monet atendeu ao pedido e James Priest perpetua até hoje esse legado.

Abertos todos os dias de 1º de abril a 1º de novembro, das 9h30 às 18h. Preço: 9 €

Tel: +33 (0)2 32 51 28 21

www.fondation-monet.fr

Nos jardins secretos de Didier e Barbara Wirth

Não é de todo uma coincidência o fato de um coelho de bronze gigante enfeitar o parque do château de Didier e Barbara Wirth, construído no século 18. Afinal, percorrer os jardins de Brécy, cercados de muros, é como desfrutar uma experiência de Alice no País das Maravilhas. Um escritor anônimo chegou a descrever Brécy como ‘‘uma pequena Versailles perdida em pleno campo’’.

Em uma paisagem ligeiramente contrastante, localizada a 15 quilômetros de Bayeux, os Wirth bordaram sua própria tapeçaria, setorizada em quatro terraços decorados com belos canteiros, arbustos meticulosamente cortados, balaústres de pedra, urnas e fontes. Didier Wirth me chamou atenção para a horta e os jardins das ervas, inteligentemente concebidos e onde seus netos adoram brincar. Assim como as orquídeas plantadas em torno de doze variedades diferentes de macieiras, o que permite ‘‘produzir uma cidra bem-equilibrada’’, segundo as palavras do próprio jardineiro.

Didier Wirth, que herdou o amor pela jardinagem de seu pai, é presidente do Comitê dos Parques e Jardins da França, mas admite espontaneamente e sem hesitação que sua mulher é a fonte de seu conhecimento. ‘‘Para dentro desses muros, é ela quem manda, enquanto eu cuido do que acontece do lado de fora’, diz Wirth, apontando para três faias que ele plantou na época da aquisição da propriedade, em 1993.

Aberto às terças-feiras, quintas-feiras, domingos e feriados, da Páscoa ao dia 1º de novembro, e também nos sábados do mês de junho, das 14h30 às 18h30, ou através de reservas para grupos. Preço: 7 €.

Tel: +33 (0)2 31 80 11 48

Normandie