Estilo de Vida Luminoso

Por Andrea Del Rio

A atmosfera de Deauville está saturada da água do mar. O barulho das ondas evoca um mantra hipnótico. A cada hora do dia, o ar é tingido por uma luz cristalina digna de aparecer num cartão postal. Deauville e o mar são amantes despreocupados. Amantes tão seguros de seu amor eterno que se permitem pequenas distrações ao longo do ano: campeonatos de polo, festivais de cinema, corridas, jantares de gala, regatas internacionais, alimentando, assim, a chama desse amor nunca apressado, no entanto, jamais extinto.

A menos de 200 quilômetros da Cidade Luz, essa aldeia do litoral da Normandia desenvolveu-se sob o impulso do duque de Morny, Charles Auguste Louis Joseph de Morny, filho de Charles de Flahaut de la Billarderie e meio-irmão de Napoleão III. Visionário, o duque é o primeiro a sentir que é precisamente lá, nessa região de dunas e pântanos, onde agricultores e pecuaristas levam uma vida dura, que seria possível construir “um reino de elegância”.

Deauville tinha todos os atrativos (proximidade da capital, clima agradável, praias de areias finas e campos verdejantes) para que a elite do Segundo Império a tornasse Meca do litoral normando. Em apenas quatro anos, esse duque audacioso e cheio de iniciativa criou a primeira linha ferroviária Paris-Deauville, ligando a Costa da Normandia à capital em apenas cinco horas.

Terminaram-se os pântanos e as terras ingratas: o audacioso projeto de Morny comporta a criação de uma estação balneária dotada de todos os serviços e instalações de que já dispõem as cidades da região. Rapidamente, erguem-se hotéis, cassinos, um hipódromo e um iate clube.

Cento e cinquenta e dois anos depois, Deauville é fiel a sua tradição de cidade animada por um espírito bon vivant . Sua glória resplandece no verão: 1.400 metros de praia, um passeio à beira-mar ao longo de uma sinuosa passarela de madeira contornada por guarda-sóis coloridos; barracas de praia art déco; sem esquecer sua magnífica piscina olímpica, o centro de talassoterapia e spa, e, ainda, os “banhos de Pompeia”, instalados num prédio classificado como monumento histórico.

Como a cereja do bolo, lá acontece, em setembro, o Festival de Cinema Americano, chamado Cannes do Norte. Criado em 1975, o festival proporciona o desfile de atores famosos e das grandes atrizes da sétima arte, e abriga jantares e festas dignos da idade de outro do cinema, quando a cidade acolhia celebridades tão prestigiosas como Coco Chanel, Errol Flynn, Colette ou Elizabeth Taylor.

O charme de Deauville encontra-se também em sua arquitetura. Uma evidência quando se contempla hotéis como o Royal Barrière, o Normandy Barrière ou o legendário Casino Barrière, uma joia de arquitetura neoclássica. As numerosas butiques, os restaurantes e os salões de jogos do cassino são o pretexto ideal para um passeio ao longo de seus corredores. Da mesma forma, não é demais aconselhar que se dedique o tempo admirando as belas mansões em frente ao mar que sobreviveram à guerra e à ocupação. Surpreendentemente ecléticas, elas são a prova que os primeiros veranistas passavam suas fériasdo mesmo modo como viviam, como de reis.

Enfim, é impossível deixar de mencionar os cavalos – senhores e mestres de Deauville. O hipódromo, os campos de polo e os haras, onde puros-sangues são criados e treinados, deram à Normandia a reputação de “país do cavalo”, o que lhe permitiu ser eleita para receber os Jogos Equestres Mundiais de 2014.

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